quarta-feira, 28 de junho de 2017

A vida sabe ser safada


Demi Moore linda. Sedutora. E banguela. Quem imagina? Estresse na carreira. Separação de Ashton Kutner. Quem não tem seus sofrimentos? A vida sabe ser safada. Desfia a alma da gente. Com todos. Sem distinção de cor ou classe social. Ninguém está livre. Há um ano de estado de calamidade, os funcionários do Rio de Janeiro estão sem o décimo terceiro e sem três meses de salário. Se Demi está banguela, os funcionários do estado do Rio de Janeiro já devem estar na fase de dentadura. Largados à míngua. Abandonados à própria sorte. Endividados. Desabrigados. Famintos. Obrigados a viver de favores de parentes e amigos. Não podem nem morrer. Falta dinheiro para o velório. Crescem os casos de suicídio entre os servidores do estado. Muitos adoeceram sob tamanha pressão. Deprimiram. Como viver sem salário? Sem prazo? Sem previsão? Pezão não fala de prazos. R$ 700,00 foi o que o governo pagou. Não pagou. Deu de esmola. Quase com nojo. Como quem joga moeda à mendigo sem nem olhar a cara. Com nojo. Sem interesse que não seja se livrar do pedinte. Agora fala em liberar mais R$300,00. Nossa! Tão bonzinho. Que legal. Olha lá, governador. Tem certeza que não vai fazer falta? Está achando que a conta da gente é cofrinho, governador? Estamos completamente à deriva. Falta verba. Só para a gente, né? Já viu político ter salário parcelado? Atrasado? Ter seus privilégios e luxos diminuídos? Falta nada nunca para o salário dos deputados. Nem o do governador, claro. Nunca para interromper os descontos fiscais e benefícios das grandes empresas. E os cargos comissionados e as secretarias? Não podem diminuir? E o dinheiro gasto com cabides de emprego? Com ajudas de custo que nos custam tanto? Para esbanjar não falta. O povo desesperado e Pezão sempre risonho. Será que ri da gente? Parece achar bem normal a miséria em que jogou seus funcionários. Está certo em rir. O dele está em dia. Falta verba? Falta tudo. Saúde, segurança, educação. Os serviços caem de podre sem manutenção. As pessoas não têm nem como pagar a passagem. Imagine a aflição dos aposentados que gastam fortunas com medicação. O corpo envelhece. Começa a enguiçar. Haja remédio para o açúcar, a pressão, o ácido úrico, o coração que descompassa, a vitamina que está baixa. Isso torcendo para não ter nada extra. O SUS não fornece toda medicação. A que fornece nem sempre tem. Nem sempre de boa qualidade. Já houve casos de remédios que, quando analisados, não tinham as substâncias necessárias. Isso é grave. Há os que chegam a tomar vinte remédios ao dia. Com despesas que chegam à R$ 3.000,00. - Calma. Sempre pode parcelar. Mas de que adianta parcelar se não tem salário? Como bancar esse custo sem salário? Como se alimentar? E condomínio? Água. Luz, gás, telefone? Plano de saúde? As dívidas crescem. Pessoas perderam suas casas, seus carros, sua saúde. Já há funcionário que virou camelô. Mas os enfermos? Como podem sobreviver? Os cansados pelo tempo, já sem condição de voltar ao mercado de trabalho? Negar salário ao trabalhador é um atentado à vida. É violação dos direitos humanos. Negar salário aos aposentados fere o Estatuto do idoso. Que estado é esse que impede um envelhecimento minimamente digno? E onde está a justiça? A defensoria? O legislativo? Onde está o Ministério Público que não se levanta contra esse crime? Todos calados com seus salários no bolso. Os que julgam. Os que batem. Os que controlam e ameaçam. A esses o salário não pode faltar. E aos amigos. Aos igualmente poderosos. Aos ricos cheios de benefícios. Numa esperteza histórica, os senhores feudais dividem os escravos. Beneficiam uns, em detrimento de outros. Os beneficiados, tranquilos, se aquietam. Assim é o funcionalismo no estado do Rio de Janeiro, dividido em facções. Para dissolver a revolta da multidão. Uns estão sem salários desde abril. Isso fora o décimo terceiro de 2016. Outros recebem. E, aliviados, se calam. Fazem ouvido de mercador. Surdos à dor dos outros. Se os sem-salário vão às ruas reclamar seus direitos são açoitados com cassetetes, gás e balas de borracha. Tratados como bandidos. Enxotados das ruas por seus colegas também do estado. Sabe o que mais dói? Dói ver as pessoas lutando pela continuação dos seus empregos. Pelo bem estar das pessoas que deles dependem. Mesmo no sufoco. Sem apoio. Desamparadas, não desamparam. Na UERJ, professores dão aulas. No Hospital Pedro Ernesto, médicos atendem. Essas pessoas mereciam o mesmo respeito de volta. Não têm. Pezão estava ligado à Sergio Cabral. Sempre. Não é ao menos suspeito? De Cabral, onde está nosso dinheiro que não volta? Enquanto Adriana Ancelmo gasta um milhão e duzentos mil para as despesinhas da casa, os funcionários morrem à míngua. O povo do Rio de Janeiro vota mal. Isso é fato. Vota em governantes sórdidos que lhe tratam como lixo. - Bem feito? Votar mal é um erro grave. Mas ninguém merece ser punido tanto assim. Será que a Senhora Justiça poderia tirar a venda, o tampão dos ouvidos e escutar o sofrimento de seu povo? Dê uma calibrada na balança que anda desregulada. Aproveite a ocasião e bata com a balança nessa gente. Dê uma balançada neles. Ameace com sua espada. Cara, sei lá. Faz alguma coisa! Mostre que a Justiça tarda, mas não falha. E que o povo merece é respeito, reconhecimento e consideração. Como disse Bertolt Brecht, há muitas maneiras de matar. Podem enfiar-te uma faca na barriga, arrancar-te o pão, não te curar de uma enfermidade, meter-te numa casa sem condições, torturar-te até a morte por meio de um trabalho. Somente o punhal o estado ainda não tentou com a gente. Senhora Justiça, o povo do Rio de Janeiro desesperado e banguela e ameaçado de morte, pede socorro. Mônica é carioca, professora e psicóloga clínica. Especialista em atendimento a crianças, adolescentes, adultos, casais e famílias. Escreva contando sua história. Mande sua sugestão para elbayehmonic@yahoo.com.br Se quiser conhecer meus livros