quarta-feira, 1 de março de 2017

A importância do sono


Nervos à flor da pele e falta de atenção podem ser sinais de dívida. E quem está cobrando é o seu sono. É verdade que uma única noite mal dormida pode ser recuperada na noite seguinte. O problema é quando isso não ocorre e as horas a menos de sono vão se acumulando. O resultado da falta do descanso necessário para o nosso corpo é uma série de problemas de saúde. Alguns efeitos são rapidamente notados, como o estresse. A falta de sono produz consequências, muitas delas graves, em todo nosso organismo. Quem acorda cedo, vai dormir tarde e espreme o tempo de sono no período que resta antes do despertador tocar acaba em dívida com o travesseiro --o nome dado para isso é restrição de sono. Quem mais sofre são os trabalhadores noturnos, que possuem o que é chamado de privação de sono. Dormir é um comportamento fundamental para sobrevivência. Isso porque nosso corpo funciona de acordo com os ritmos circadianos, regulados pelos momentos de vigília e de sono. É o nosso relógio biológico. Quando começa a escurecer, a temperatura do nosso corpo baixa, e a redução da luminosidade induz a produção de melatonina, hormônio que prepara nosso sono. Nosso relógio biológico precisa no escuro da noite para funcionar. A vida na cidade, com os atrativos noturnos e o tempo gasto nos delocamentos atrapalham nosso sono Varar a madrugada e acordar tarde – o famoso "trocar o dia pela noite" – também bagunça nosso relógio biológico. Isso porque o sono durante o dia não possui a qualidade do sono da noite. Assim, não conseguimos o tempo suficiente para o descanso do corpo promovido pelo repouso e para a faxina da mente feita pelos sonhos. "As pessoas acham que não precisam dormir, e não dão valor ao sono como dão a outras coisas, como aos exercícios físicos", diz Cláudia Moreno, professora da Faculdade de Saúde Pública da USP. A luz do celular bloqueia a produção da melatonina, hormônio que nos faz dormir, retardando o início do sono Quantas horas por noite? "As pesquisas indicam que dormir menos do que 5 h em média aumenta as chances de doenças cardiovasculares", afirma Lorenzi. Segundo ele, o efeito da falta de sono em um ataque cardíaco não é imediato. Contudo, é grande a frequência de problemas cardíacos que surgem quando a pessoa esta passando por período de noites mal dormidas. Um recente estudo feito na Alemanha mostrou que a privação de sono sobrecarrega o coração. A necessidade de sono varia com a idade e de pessoa para pessoa. Bebês e adolescentes precisam dormir bem mais do que adultos. E a regra de um mínimo de 8 horas de sono não é universal. Em média, a quantidade de sono ideal seria por volta de 7 horas. "Algumas pessoas se sentem bem com 6 horas de sono. Acordam sem sonolência, bem-dispostas, não sentem sono durante o dia", diz Moreno. Mas se não é esse seu caso, é porque deveria gastar mais algumas horinhas na cama. A quantidade necessária de sono para você é a que te permite acordar bem e estar bem disposto durante o dia É possível saber se estamos quites com nossos travesseiros verificando sintomas imediatos da falta de sono. Cochilar com bastante facilidade quando se está lendo, assistindo à TV, em reuniões ou no trânsito indicam nosso grau de sonolência. O Instituto do Sono possui um teste on-line em que você pode verificar se precisa dormir mais. A falta de sono está associada ao ganho de peso e ao diabetes Dor de cabeça, cansaço e estresse são os problemas imediatos As consequências mais agudas e imediatas da falta de sono incluem mau humor e estresse. "Quem dorme pouco fica mais nervoso", diz Lorenzi. Ele explica que isso ocorre porque o sistema nervoso simpático, associado à descarga de adrenalina e ao estresse, acaba mais ativo que o parassimpático, que promove o relaxamento. "A pessoa também pode sofrer com dores de cabeça, cansaço ao longo do dia, sonolência em horário que deveria estar acordada e atenta", diz Moreno. Aí que mora o risco de consequências mais graves da noite mal dormida. "Se a pessoa opera uma máquina, pode causar um acidente", diz a especialista. Além de sonolência em diferentes momentos do dia, a restrição de sono provoca mau humor e estresse Problemas cardiovasculares, obesidade, envelhecimento são efeitos Quem não dorme o necessário costuma ter mais resfriados e gripes ao longo do ano. É o efeito da redução da imunidade, que faz com que as pessoas fiquem mais suscetíveis a contrair doenças. Problemas gastrointestinais também são males de quem dorme pouco. "Sono é importante para muitas funções do nosso organismo, praticamente todas", diz Ribeiro. A falta de sono também está associada ao ganho de peso, segundo Lorenzi. "Quanto mais privada de sono a pessoa é, maior a chance de sofrer de obesidade", diz ele. O ganho de peso deve-se a alterações nos ciclos hormonais e ao fato de nos alimentarmos de maneira pior. Estudos também mostram que a falta de sono aumenta o apetite e a resistência à insulina, estando associado ao diabetes. Devido à influência do sono no sistema endócrino, o déficit crônico é fator de risco associado a alguns tipos de câncer, como o de mama e de próstata, diz Ribeiro. Falta de sono aumenta a pressão sanguínea e sobrecarrega o coração, elevando o risco de infarto É possível ficar em dia com o sono; saiba como pagar sua dívida De acordo com os especialistas, nada melhor do que dormir para recuperar a energia do corpo e da mente. "Já que somos sociedade privada de sono, cochilar pode ser uma boa ideia", diz Lorenzi. Segundo o cardiologista, não existe estudo que mostra que cochilo reduz problemas cardiovasculares, mas os efeitos imediatos de uma noite mal dormida podem ser sanados com uma soneca. Para Moreno, uma forma de compensar a restrição de sono ao longo da semana é dormindo sem culpa no fim de semana. Muitas pessoas acham que perdem tempo dormindo, mas é importante compensar no fim de semana o sono perdido. Permita-se dormir quando pode dormir" Cláudia Moreno, professora da Faculdade de Saúde Pública da USP Um exemplo de descuido é ver até mesmo o lazer como mais importante que o momento de sono. "Quem acha que não precisa dormir está correndo o risco de ter problemas crônicos no futuro", completa. Fernando Cymbaluk Do UOL, em São Paulo