terça-feira, 3 de julho de 2012

Reflexão sobre a cerimônia de casamento

Muita gente me pergunta porque eu nunca me casei. Tá bom, vou falar a verdade. Só a minha avó pergunta. O resto das pessoas não está nem aí pro assunto. Mas vamos lá.
A minha desavença não é com o casamento em si. Eu até penso em casar, mas isso depende da Gisele Bündchen se separar logo. A minha treta é com a cerimônia. Acho tudo muito bizarro, e isso desanima no processo de "juntar os trapos". Bom, ao menos foi essa a desculpa que inventei pra não enxergar que, talvez, nenhuma mulher me queira mesmo como marido.
A cerimônia de casamento é uma maluquice. Primeiro, já repararam que a noiva nunca chega na hora? Todo mundo acha que é charme, que ela se maquia demais, que faz parte da magia chegar tarde... mas não, as noivas atrasam porque cada pai de noiva tem a árdua tarefa de dissuadir a filha da cagada. Isso envolve coisas como a famosa chantagem emocional, a ameaça de cortar a mesada como quando ela tinha 8 anos de idade, trancafiar a moça no quarto e, em casos extremos, sequestros-relâmpago de última hora. Mas toda noiva tem uma mãe, e é a mãe que distrai o pai para a coitada fugir.
Mesmo assim, o pai não desiste. Na última hora ele ainda tenta reverter a situação, inclusive ao trazer a noiva até o altar. Parece que ele apenas conduz a filhota até o amado, mas o que ninguém percebe é que ele cochicha no ouvido da rebenta uma série de últimos conselhos desesperados: "não faz essa cagada, minha filha... tô aqui ainda pra te dizer que é roubada, cai fora, dá meia-volta..." Mas a noiva não desiste. Só resta ao pobre homem sorrir constrangido para os convidados e receber o olhar de solidariedade: "nós sabemos que você tentou, cara..."
Ao posicionar-se ao lado do noivo, ela e ele ficam de costas para os presentes. Melhor assim, pois não observam as caras de lamento e reprovação dos espectadores. Não notam também que o pai da noiva acaba de deixar a igreja, desolado. Pela filha e por constatar que ele está casado até hoje e com o mesmo tribufú!
O padre olha os noivos com resignação. Ele não pode fazer o que realmente deseja, que é jogar água-benta nos dois e ver se exorciza o demônio que os inspira a fazer tal maluquice. Não pegaria bem e ainda molharia o vestido da noiva, que só terminará de ser pago em 2027.
E o ato da troca de alianças? Quem traz é sempre uma criança, já viram? É porque somente alguém desprovido de julgamento e noção do mal pode cumprir essa tarefa árdua de algemar duas pessoas. E sim, são alianças, mas se o Capitão Nascimento chegasse enquadrando o casal, a simbologia seria a mesma.
Em geral, o noivo tem alguma consciência da merda na qual está se metendo quando o padre começa aquele interrogatório todo: "jura amar, respeitar, honrar sua mulher?" Até aí tudo bem, até porque a figa tá bem guardada dentro do bolso. Mas quando rola o questionamento se será fiel a vida toda é que a coisa pega: o noivo olha para a sogra na primeira fileira, faz uma rápida projeção de como ficará a esposa em mais vinte anos, e pede para negociar: "calma lá, seu padre... sabe o que é..." E dá-lhe lábia para convencer o sacerdote. Mas a merda já está feita.
A cerimônia segue e entram os padrinhos. Notem que quase sempre eles estão absolutamente ausentes de tudo que acontece ao redor. Eles estão ali fisicamente, mas a cabeça está em outro lugar. Para eles, tanto faz se o casal sai da igreja feliz ou não. Os padrinhos só pensam na festa que terá em seguida e no quanto poderão comer e beber. São os padrinhos que dão o vexame no fim da balada ao tentar encoxar a noiva ou falar umas verdades para a mãe dela. Alguns vomitarão nas sonolentas damas-de-honra, o que causará uma revolta geral. Mas eles não se lembrarão de nada no dia seguinte, nunca.
A parte mais tensa da cerimônia de casamento é quando, desafiador, o padre encara a plateia e pergunta se alguém se opõe ao matrimônio do casal. Por ele, os dois não fariam essa besteira. Mas deixaram a cerimônia seguir até esse momento e agora ele VAI casar esses putos, que é uma boa maneira de fazer com que aprendam! E AI de quem for contrário e tentar impedir!
Ante a pergunta desafiadora do padre, todos os homens são imediatamente beliscados por suas esposas e murmuram frases desconexas abafadas entre os dentes trincados. Coroinhas estrategicamente posicionados nos balcões superiores ficam com estilingues preparados para atingir a fuça de qualquer um que consiga dizer algo. E Jesus Cristo só não levanta a mão em sinal de protesto porque está pregado na cruz atrás do sacerdote!
Tão logo se ouve o "eu os declaro marido e mulher" há uma comoção geral. É o único momento em que todos invejam o casal: há uma consciência coletiva de que os dois vão para a lua-de-mel e que lá, pela única vez em todo o processo do casamento, vai rolar uma coisa maravilhosa que nunca mais acontecerá nesse tipo de união: se não falha a memória da galera, era um troço muito gostoso. E chamava... como é que era mesmo? Ah, sim: "sexo"!
De tanta raiva dos dois, por ver que casaram mesmo e que estão prestes a transar, a única maneira que os convidados encontram para extravasar o sentimento ruim é essa: arremessar com o máximo de força, mirando na cabeça, olhos e orelhas dos pombinhos, o maior número possível de grãos de arroz. E crus!
Atordoado, o casal vai pra festa. Lá, pelo menos, tem bebida pra todo mundo. E, convenhamos, é sempre divertida uma balada de casamento. Mas isso é papo para outro texto...

por Bruno Cortez muito bom