sexta-feira, 16 de abril de 2010

Moradores do Morro do Bumba reclamam da falta de assistência



Bernardo TabakDo G1, do Rio
Marcos Araújo diz que tem medo, mas não vai para um abrigo.Marcos Araújo diz que tem medo, mas não vai para um abrigo. (Foto: Bernardo Tabak)
Moradores do Morro do Bumba, em Niterói, na Região Metropolitana no Rio, reclamam da falta de informações e de agilidade dos órgãos públicos para dar soluções às vítimas da tragédia da semana passada, que deixou 46 mortos na comunidade. As principais críticas são quanto ao pagamento do aluguel social e às vistorias nas casas pela Defesa Civil Municipal de Niterói.
Uma faixa mostra a indignação dos moradores do Bumba.Uma faixa mostra a indignação dos moradores
do Bumba. (Foto: Bernardo Tabak)
Muitos moradores que perderam ou tiveram as casas interditadas reclamam da lotação e da falta de estrutura nos abrigos. “As pessoas estão voltando para as casas que a Defesa Civil mandou desocupar. As igrejas próximas ao morro não tem mais vagas”, disse o autônomo Marcos José Araújo, de 32 anos. Desde 2003, ele mora no Morro do Bumba, com a irmã e dois sobrinhos pequenos. A casa deles é uma das que a Defesa Civil mandou evacuar.
Entretanto, Araújo diz que a Defesa Civil nem sequer vistoriou a casa dele. “O pessoal da Defesa Civil só passou olhando, dizendo que as casas estavam condenadas”, contou.

Ele ressalta que gostaria de sair da favela, mas não tem condições para isso. “Tenho medo de cair um outro pé d’água daqueles, mas para abrigos nós não vamos”, disse ele.
Maria Aparecida aponta a fenda que surgiu nos fundos da casa dela.Maria Aparecida aponta a fenda que surgiu nos
fundos da casa dela. (Foto: Bernardo Tabak)
Família foge pela segunda vez de deslizamento
A diarista Maria Aparecida Caldeira Martins, de 52 anos, e o marido dela, Antonio Leonardo Martins, 62, estão de saída do Morro do Bumba. “É a segunda vez que estamos fugindo de um deslizamento. Há seis anos, nos tivemos que sair pelo mesmo motivo do Morro da Caixa d’água, onde morávamos”, contou aparecida.

Eles estão de mudança para a casa de parentes no município de Itaboraí. Maria Aparecida conta que ficou muito assustada com as enormes fendas que apareceram no solo, nos fundos da casa dela. “Fiquei muito assustada quando voltei para casa depois daquela tragédia. Não tem mais condição de ficar aqui, depois que me deparei com essa situação”, contou Maria Aparecida, apontando para as fendas no chão.
O marido dela diz que cadastrou a família no posto improvisado da Defesa Civil Municipal de Niterói, aos pés do Morro do Bumba, para receber Aluguel Social. “Não falaram uma data exata, mas prometeram que vamos receber o Aluguel Social. No cadastramento, falaram que viria uma assistente social aqui em casa até esta segunda-feira (19)”, afirmou Antonio Leonardo. “Nós só queremos uma solução para sabermos onde vamos morar”, enfatizou.
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Fábio não aguentou ficar em um abrigo, e voltou para casa, ao lado de um deslizamento.Cansado de abrigos, Fábio voltou para casa, ao
lado de um deslizamento. (Foto: Bernardo Tabak)
Faixas de interdição da Defesa Civil estão sem controle
Muitas casas que estão dentro da área de interdição da Defesa Civil não receberam as fitas de isolamento. Com isso, não existe um controle das áreas interditadas. Em outros casos, moradores não respeitam as fitas.
“A Defesa Civil colocou uma fita na entrada da minha casa na quinta-feira (8). Eu fiquei quatro dias no abrigo, mas cansei”, contou o mecânico de automóveis, Fábio de Carvalho. Ele disse que o padrasto arrebentou a fita de isolamento.
“Voltei na terça-feira (13), mas meu irmão ficou no abrigo, com medo. Se a gente for esperar por Aluguel Social, vamos ficar em abrigo por uma eternidade”, afirmou ele, com descrença. “Se chover forte de novo, volto para o abrigo”, resume.
 
Defesa Civil pode usar PM para retirar moradores
A assessoria de comunicação da Secretaria Municipal de Defesa Civil de Niterói informou que ainda não tem uma previsão de quando será fornecido o Aluguel Social para as vítimas de deslizamentos da cidade.
A secretaria informou que pode usar a Polícia Militar caso moradores se recusem a sair de casas interditadas. Entretanto, a secretaria informou que não trabalha com hipóteses de resistência dos moradores de comunidades atingidas por deslizamentos em Niterói.
Sobre a falta de controle sobre as áreas interditadas, a Defesa Civil não foi encontrada para comentar o assunto.