domingo, 29 de junho de 2014

Um Brasil adolescente


Neymar e David Luiz não contiveram a emoção após o jogo – Toru Hanai/REUTERS Franz Beckenbauer escreveu antes de a Copa começar e repetiu a sentença na véspera da partida contra o Chile: o Brasil era favorito pelo fator local, mas a seleção verde-amarela tinha um probleminha: uma equipe jovem demais, a começar pelo craque de apenas 22 anos. O Kaiser alemão, campeão mundial como jogador e treinador, acha que para leventar canecos é fundamental ter um líder do time mais rodado. Talvez seja despeito, ou mesmo um equívoco de Beckenbauer. O fato é que o sofrido jogo de oitavas-de-final em Belo Horizonte mostrou um Brasil pra lá de nervoso. Quando se olha a espinha dorsal da equipe formada por Thiago Silva, David Luiz e Neymar, não há como não pensar na questão levantada pelo alemão. Thiago Silva quase foi as lágrimas na entrevista anterior ao jogo. David Luiz é emoção sempre. Neymar, quando acabou o jogo, desabou em um choro convulsivo a beira do gramado. Isso sem falar em Júlio César, o destaque da equipe. Ele tinha os olhos empapados de lágrimas, não depois da vitória, mas antes das cobranças de pénaltis. O Brasil não é Coca-Cola, mas é emoção para valer. Está na cara que o abismo que separou a primeira da segunda etapa brasileira tem algo a ver com nervos incontroláveis. No período incial, partidaço. O Brasil amarrou o Chile com uma corrente e engoliu a chave do cadeado. Marcação em cima, velocidade, defesa ajustada. Neymar tomou uma bordoada na coxa no início do primeiro tempo e, mesmo assim, foi brilhante. No intervalo, a musculatura esfriou e Neymar precisou escolher quando iria tentar uma arrancada. Doía demais. Até aí, coisas da vida e dos gramados. O problema é que o time entrou em parafuso ao ver seu principal craque limitado. O colapso do segundo tempo foi, basicamente, emocional. Veio a prorrogação e, mais tarde, a disputa por pênaltis. O Brasil passou para as quartas, mas o jogo de Belo Horizonte deixou essa péssima impressão levantada por Beckenbauer. A juventude e o descontrole emocional da equipe assustam. Nem se trata de problema técnico, tático. Na bola, a garotada de Felipão mostrou evolução. Se desse para terminar a partida de Belo Horizonte aos 45 do primeiro tempo, todos estariam mais aliviados. Só que o Brasil não conseguiu nessa Copa um bom jogo de 90 minutos. O segundo tempo contra o bagunçado time de Camarões também foi interessante, só que a etapa inicial havia sido um ataque de horrores. Grandes times e seleções mostram poucas variações de uma etapa para a outra. Conseguem jogar por mais tempo com a mesma intensidade e estabilidade. O Brasil precisa amadurecer, e tem que ser na marra. Nosso time adolescente tem mais duas semanas e três jogos para virar adulto.