Tema de abertura da novela "Supermanoela", exibida na Rede Globo em 1974 as 19 horas com Marília Pêra e Paulo José comandando o elenco. Música: Supermanoela - Betinho.
Aos 72 anos, a atriz Marília Pêra morreu no sábado, 5, às 6 horas em sua casa em Ipanema, zona sul do Rio. Na luta contra um câncer de pulmão há dois anos, ela passou recentemente por um tratamento contra desgaste ósseo na região lombar. Muito debilitada e andando de cadeira de rodas, Marília foi vista por vizinhos pela última vez há cerca de um mês.
A doença a fez se afastar do trabalho por um ano e interromper a sua participação nas gravações da série Pé na Cova, da TV Globo. Em agosto, a atriz chegou a receber pessoalmente o troféu Oscarito do 43.º Festival de Cinema de Gramado. Mas boatos sobre uma internação da atriz por conta de um câncer em estágio avançado levou sua assessoria a desmentir em novembro, em seu perfil da rede social, que a doença de Marília tivesse piorado. "Sobre as notícias que vêm sendo veiculadas sobre o estado de saúde da Marília: ela está em casa e passa bem", informaram.
O velório da atriz foi marcado para o início da tarde de sábado no Teatro Leblon, na sala que tem o nome da atriz. O enterro estava previsto para ontem.
Ainda em setembro, pouco antes da estreia da atual temporada de Pé na Cova, Marília deu uma de suas últimas entrevistas, justamente ao Estado, por telefone. Falou sobre o disco que começaria a gravar para a gravadora Biscoito Fino, com repertório pautado pelo amor, e sobre sua afinidade com Miguel Falabella, com quem mais contracenou nos últimos dias de trabalho. "Miguel comprou meu passe total. É meu coronel", divertia-se. "Ele me falou que depois de Pé na Cova, vai escrever uma série para mim. Serei a protagonista. E continuo mulher do Miguel. É a esposa de um cara que se envolve em corrupção e assuntos sexuais sinistros. O cara vai preso e a mulher é uma santa. E o que fica da vida dessa mulher, depois que descobrem que esse homem tão poderoso se envolveu em coisas tão horríveis, é um castelo que vai caindo."
Na ocasião, Marília fez questão de dizer que estava ótima, que a reclusão de dois anos antes, em função de um tratamento para sanar o desgaste ósseo dos quadris, era algo completamente superado. E que estava cheia de projetos. "Eu não estou reclusa, muito pelo contrário", insistiu. Até o último instante, fez questão de disfarçar sua fragilidade e as condições apontadas há cerca de um mês pela colunista Hildegard Angel, que publicou em seu blog que a atriz sofria de câncer de pulmão - "ela mesma me falou", informou Angel, desmentida por Sandra Pêra, irmã da atriz.
Marília Pêra poderia ser só mais uma dessas herdeiras de artistas que, fascinada pelo universo frequentado pelos pais, virou atriz. O caso é que dificilmente ela escaparia desse destino. Artista completa, capaz de atuar, cantar e dançar com maestria, pisou no palco pela primeira vez aos 4 anos, incentivada pela mãe, Dinorah Marzullo, e pelo pai, Manuel Pêra.
Foi bailarina dedicada a coreografias, sapatilhas e pas-des-deux, dos 14 aos 21 anos. Esteve em musicais e espetáculos de revista, peças, filmes, novelas e seriados. Polêmica como só os gênios podem se dar ao luxo de ser, Marília Pêra fascinou grandes plateias e descontentou alguns colegas de profissão. De temperamento impositivo, fazia valer sua vontade. Um dos episódios que vieram à tona, nesse contexto, foi sua escalação para a minissérie Cinquentinha, de Aguinaldo Silva. Após várias cenas gravadas, desistiu do papel, causando desconforto entre os profissionais da Globo e sendo substituída por Betty Lago.
Em 1989, ao tomar partido por Fernando Collor para a presidência da república, foi vítima de agressores que apedrejaram a porta do teatro onde ela se apresentava. Desde então, não mais se manifestou politicamente.
O episódio foi um contraste no seu histórico político, já que no passado, chegou a ser vista como comunista. Foi presa durante a apresentação da peça Roda Viva, de Chico Buarque, em 1968, e teve a casa invadida pela polícia pouco tempo depois, quando novamente foi presa.
Foi ainda engatinhando como atriz que esteve no mesmo palco de Bibi Ferreira, em Minha Querida Lady (1962). Costumava dizer que passou nos testes porque os diretores procuravam alguém capaz de fazer acrobacias, coisa rara na época. Em 63, foi Carmen Miranda em O Teu Cabelo Não Nega, biografia de Lamartine Babo, e voltou a encarnar a cantora em outras ocasiões, como no espetáculo A Pequena Notável (1966), dirigido por Ary Fontoura, e A Tribute to Carmen Miranda, no Lincoln Center, em Nova York (1975), dirigido por Nelson Motta, e na única apresentação de A Pêra da Carmem, no Canecão, em 1986. Em 2005, fez o musical Marília Pêra canta Carmen Miranda (2005), dirigido por Maurício Sherman.
Em 64, chegou a derrotar Elis Regina em um teste para o musical Como Vencer na Vida sem Fazer Força.
Chegou à TV ainda em 65, em Rosinha do Sobrado, já na Globo e depois, em A Moreninha. Em 1967 fez sua primeira apresentação em um espetáculo musical, A Úlcera de Ouro, de Hélio Bloch. Em 1969, cativou críticos e públicos como protagonista de Fala Baixo Senão eu Grito, primeira peça da dramaturga Leilah Assumpção. Levou o Molière e o APCA do ano.
Em 75, gravou o LP Feiticeira, pela Som Livre. Com aulas de ópera no currículo, interpretou Maria Callas na primeira montagem de Masterclass. Disse ao Estado que se identificava com a diva.
Com a mesma competência que a levava a atuar e a cantar tão bem, dirigia com mão firme. Era seu o comando de Marco Nanini e Ney Latorraca em O Mistério de Irma Vap, um hit de bilheteria da história teatral brasileira.
Casou aos 17 com o músico Paulo da Graça Mello, morto num acidente de carro em 1969 e pai de Ricardo Graça Mello, seu primogênito. Paulo Villaça, o segundo marido, foi seu parcerio no palco. Depois veio Nelson Motta, pai das filhas Esperança e Nina.
O grande musical Elas por Ela, para a TV Globo, veio em 92. Em 2008, foi protagonista do longa-metragem, Polaróides Urbanas, de Miguel Falabella, onde interpreta duas irmãs gêmeas.
Miguel Falabella foi seu grande parceiro nos últimos anos. Dele, fez A Vida Alheia e Pé na Cova, série que ainda reserva uma temporada inédita, já gravada, como Darlene.
Após a nossa entrevista, em setembro, por telefone, o Estado tentou agendar a produção de uma sessão de fotos com a atriz, mas foi informado que sua situação física era um tanto frágil. A assessoria de comunicação da Globo, como faz normalmente, a fim de não incomodar suas estrelas, tentou oferecer imagens já produzidas por seus fotógrafos. A reportagem se dispôs a aguardar por um bom momento para a atriz e ela, gentilmente, acabou agendando as fotos. As fotos em nada denunciam qualquer problema de saúde, ao contrário: apresentam uma mulher feliz, bem maquiada, bem vestida, como sempre, com aspecto de alguém bem disposto e que leva ao pé da letra o lema de que "o show não pode parar". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
A primeira novela que eu pude ver na tv foi SuperManoela ja nas ultimas semanas em 1974.Marilia Pera ficou marcado a imagem dela como a primeira grande atriz que conheci, descance em PAZ.
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