Confira as dicas para o cuidado de seu filho em entrevista com a psiquiatra Silvia de Oliveira Martins, especialista em crianças e adolescentes.
É verdade que os pais precisam conversar com o bebê ainda durante a gestação?
Sim, o fato da mãe e do pai falarem com o bebê, quando ele ainda se encontra no ventre materno, permite que os pais possam experimentar o afeto pelo seu filho e elaborem fantasias e expectativas em relação a criança. O bebê, no útero, precocemente já tem o sentido da audição e poderá reconhecer a voz dos pais. O som do coração materno, da voz da mãe e do pai servirão para tranquilizá-lo após o nascimento.
O que uma avó, uma tia ou uma mulher mais experiente podem fazer quando percebem que a mãe não tem a habilidade necessária para cuidar do bebê?
A mãe que tiver saúde mental, independente de sua prática, deve ser a pessoa a desempenhar o cuidado do bebê. As tias e avós são muito importantes para que possam ajudar a mãe, apoiando-a, estando junto dela nos momentos difíceis, facilitando para que esta possa cuidar bem do seu bebê.
Como lidamos com bebês que não param de chorar?
Os bebês quando recém nascidos choram na maioria das vezes por que têm cólicas, por que estão ansiosos, por que têm alguma dor ou desconforto. As consultas rotineiras com o pediatra tranqüilizarão os pais quanto a saúde do bebê. Quando um bebê chora intensamente os pais precisam entendê-lo, dizer que sabem que ele está desconfortável, mas que também sabem que este desconforto passará. Devem dar colo, acalentar o bebê até que ele se console. Muitas vezes o bebê se debate ansioso enquanto chora e exige dos pais um esforço grande até tranqüilizá-lo. O casal, podendo se revezar neste momento, esta tarefa fica mais tranqüila e menos árdua para ambos. Em pouco tempo, no máximo três meses ,esperamos que o bebê se tranqüilize, que as cólicas cessem e que a freqüência e intensidade do choro diminuam.
Mas todos os bebês são assim? Um filho de uma amiga foi um bebê muito calmo e o de outra chora sem parar , por quê?
Não, cada bebê é um bebê diferente, com seu temperamento próprio e os pais também são diferentes com cada filho, pois
estão vivendo um novo momento em suas vidas. Há bebês que choram pouco, consolam-se com facilidade; há outros bebês que choram muito e parecem agitados, ansiosos; enfim, como todas as pessoas, cada bebê é um indivíduo único.
Dando tanto colo para o bebê ele não ficará manhoso e com "balda"?
Há autores que já esclareceram que os bebês em torno de quatro meses não têm choro por manha. O colo e o carinho intensificam a relação do bebê com sua mãe e seus outros cuidadores e permitem que a relação pais (familiares)/bebê fique próxima e intensa. Uma relação assim afetiva e forte protegerá o bebê de riscos emocionais no seu desenvolvimento.
É verdade que os bebês não são frágeis?
Sim, os bebês não são frágeis. Eles têm uma série de capacidades que hoje são muito conhecidas e cada vez mais estudadas. Sabemos que um bebê com horas de nascido já pode olhar fixamente para os pais, acompanhar o movimento de uma bolinha vermelha, dirigir a atenção para o local de onde provém um som agudo. O bebê desde o nascimento é atraído pela face humana e é capaz de interagir com o meio. Sabemos hoje que o bebê ainda muito novinho, com horas de vida, consegue fixar sua atenção, num estado que chamamos de "inatividade alerta", quando está apto para aprender e conhecer o mundo.
Mas e para pegar o bebê? Dá para apertar, "afofar", jogar para cima?
Olha, dá para "afofar" o bebê sim, pegar no colo, trocar de colo. O bebê não se desmancha, nem se machuca. Pelo contrário, ele precisa ocupar um espaço na família e participar. Entretanto, o bebê precisa de tranqüilidade, regras, horários, de forma a que possa crescer bem. Nos cuidados com os bebês e com os filhos em geral vale uma regra da vida: não se deve exagerar nem para um lado, nem para outro.
Estou um pouco preocupada com a volta ao trabalho. As creches não são prejudiciais? Como fazer para o bebê não se ressentir do afastamento? Não seria melhor parar de trabalhar?
Hoje em dia a mulher ocupa uma função na manutenção do lar e é importante para ela, para a família e para o próprio bebê que a mãe se mantenha trabalhando. O fundamental é que a creche seja bem escolhida, que os pais visitem o local, vejam se sentem-se bem e acolhidos. Seria interessante iniciar a levar o bebê a creche uns dias antes de retornar ao trabalho. Os bebês de quatro a seis meses não costumam estranhar e adaptam-se bem. Um problema que pode preocupar quando o bebê inicia na creche é um aumento na freqüência com que ele se gripa ou tem outro tipo de infecção de vias aéreas. Havendo na família alguém que se disponha a cuidar do bebê, como uma avó, uma tia há a vantagem que o bebê ficará mais protegido na sua casa. É importante que esta pessoa não dispute o afeto e a atenção do bebê com a mãe, mas que aja como uma continuação dela na sua ausência. Do contrário, o bebê será o maior prejudicado. Aos dois anos a criança deve ingressar numa escolinha ou creche, nem que seja por meio turno, para que possa iniciar a socilizar-se.
Como podemos lidar com os irmãos mais velhos e seu ciúme no nascimento do bebê?
Talvez a coisa mais importante seja podermos entender que um irmão é sempre uma grande alegria para uma pessoa e que não estamos fazendo um mal, ou traindo nosso filho por termos outro. Deve ficar claro, para nós e para os irmãos mais velhos que o amor não será dividido e sim multiplicado. Mesmo assim, os irmãos terão ciúme, o que é normal e esperado. Os pais podem tomar alguns cuidados. Por exemplo, não dar atenção exclusiva ao bebê, reservar um pouco do tempo para os outros filhos. Envolver o filho mais velho em alguns cuidados do bebê. Diferenciar claramente o que o filho mais velho pode e o bebê não pode, auxiliando-o a entender que sempre que crescemos ganhamos e perdemos algumas coisas. A presença de tios, padrinhos, avós pode ajudar muito os pais, assumindo cuidados do bebê por algumas horas e permitindo que o mais velho seja atendido. É freqüente que ,com o nascimento de um bebê, os adultos de uma casa passem a, de certa forma, restringir muitas coisas do filho mais velho em favorecimento do bebê que é "pequeno e frágil". Esta conduta é inadequada e poderá piorar o ciúme e a futura relação entre os irmãos.
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