Recentemente, recebi pela internet um power point que falava sobre a importância da dança. Segundo dizia ele, antigamente as pessoas dançavam juntinhas e esse era um fator determinante para ajudar às mulheres a escolher o homem para com ela conviver. Pelo texto, a maneira de o homem pegar na dama, de conduzi-la com segurança e leveza, se ele cometeria erros, se pisasse no pé dela, como se desculparia e se se desculparia, tudo isso contava na hora de fazer a escolha. Hoje essa forma de seleção está bem mais limitada. A chamada dança de salão é desafortunadamente bastante restrita a freqüentadores de gafieiras. As boates mais freqüentadas só tocam música (?) para chacoalhar a caveira. Os corpos ficam separados. Os ouvidos agredidos por aquele bate-estacas imbecil. As mulheres perderam este importante fator de escolha e, disse o texto, talvez por isso haja tão más escolhas...
No tempo das antigas ternuras, a gente dançava juntinho na maior parte das vezes e separado em outras. Para nós, os tímidos, era aterrorizante e ao mesmo tempo prazeroso tirar uma moça para dançar. A possibilidade de recusa eqüivalia a uma espada de Dâmocles sobre as nossas cabeças, assim como a eventualidade de, durante a música, acontecer um certo intumescimento de determinado órgão da anatomia masculina. O que, via de regra, acarretava em abandono pela dama no meio do salão. Eu já escrevi aqui sobre isso. Dava um trabalho danado controlar os passos para não pisar nos delicados pezinhos das moças e pensar no Sagrado Coração de Jesus caso a “cobra caolha” começasse a se empolgar.
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Mas eu concordo com o texto no power point. Dançando, dava às moças e rapazes o fundamental impulso para entabular conversação. Eu lembro que mandava um “embromation” – aquele inglês estropiado – no ouvidinho da menina, cantando a música que estávamos dançando. Se ela estivesse gostando, sorria significativamente. Caso não aprovasse aquelas intimidades, fechava a cara e eu tratava de, literalmente, cantar noutra freguesia.
Eu não era nenhum pé-de-valsa. Por ser tímido que dava nojo, ficava na maior parte das vezes como discotecário (esse negócio de “DJ” ou “didjei”, graças ao bom Deus não existia na época...). Eu e o Belmiro, meu obi wan kenobi em termos musicais, tínhamos os melhores discos do pedaço. O Belmiro era guerreiro, partia pra cima da mulherada e sempre se dava bem. Daí, o seu “assistente”, ou seja, moi, ficava pilotando o toca-discos. Uma das músicas que eu gostava de tocar era esta que vocês estão ouvindo nesse momento. Eu gostava mesmo dessa música. Em casa, colocava o disco para tocar e ficava olhando a lua, pensando naquela que talvez estivesse em algum lugar, olhando para a mesma lua e pensando em mim...
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Quando eu colocava este disco no prato, os casais iam se formando na pista e eu tratava de escolher uma pra mim também. Às vezes, quer dizer, muitas vezes, eu sobrava. Mas não perdia a pose e ficava lá com cara de quem sabe animar um baile...
Eu ficaria muito feliz se algum dia, alguém me contasse: “Olha,Vieira, eu comecei a namorar o meu marido naqueles bailinhos que você tocava seus discos...”
Não sei se aqueles mela-cuecas de antanho deram em algum casamento. Dos amigos que eu conhecia, com certeza, não. Mas tinha muita gente que eu não conhecia. Quem sabe? Ah, seria um enorme prazer saber que eu ajudei uma mulher a fazer a sua escolha por ter nos braços alguém gentil e atencioso, que lhe fez ebulir os hormônios, ao ouvirem as Supremes cantando essa canção bossanovística e deixar que a melodia e o destino lhes guiassem os passos...
“Precious little things (precious little things)
You mean the world to me...”
Sim, claro, essas pequenas e preciosas coisinhas significam mais que o mundo para todos nós...
(Ei, duvido você pegar agora a sua esposa, o seu esposo, namorado, namorada, noivo, noiva e tirá-lo para dançar essa música de rosto colado! Garanto que você vai agradar totalmente!)
j.v.
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Na Rádio Antigas Ternuras, você ouve The Supremes, cantando essa delícia que é “Precious Little Things”. Ah, meus tempos!