quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

O Polêmico Carlos Imperial


Envolvido no lançamento das carreiras de Roberto Carlos, Paulo Sérgio, Elis Regina, Tim Maia, Wilson Simonal, Clara Nunes e inúmeros outros artistas, as atividades de Imperial incluem a produção de filmes e peças de teatro, participação em programas de televisão e autoria de músicas de sucesso como "A Praça" e "Vem quente que eu estou fervendo". Nas notas da biografia póstuma Dez! Nota Dez!: Eu Sou Carlos Imperial, Denilson Monteiro afirma que "a cena cultural brasileira dos anos 1960 a 1990 seria muito diferente se não fosse Carlos Imperial", acrescentando que "ele foi presença constante na música, no cinema, no teatro, na TV, nos jornais e revistas, e até na política". Dono de personalidade polêmica, Carlos Imperial se autodeclarava "rei da pilantragem" e tornou-se célebre por seu estilo de vida irreverente e libertino marcado por incontáveis casos amorosos. Seguindo o exemplo de seu amigo e vizinho Agildo Ribeiro, Imperial descobriu no mundo artístico uma "boa maneira de chamar a atenção", especialmente das mulheres[1]. Amante da música popular e colecionador de discos importados[2], Imperial admirava os métodos de Tom Parker, empresário de Elvis Presley, e aproveitou o nascente movimento do rock brasileiro: ele criou o Clube do Rock, espaço de música e dança em Copacabana que se tornou ponto de convergência de um grupo de artistas que se apresentavam em clubes, rádio e televisão. Imperial também atuou no conjunto Os Terríveis, onde tocou piano e acordeão[3]. A repercussão negativa do caso Aída Curi para o cenário do rock carioca levou Imperial a aproximar-se da bossa nova. Ele produziu, pela Polydor, os dois primeiros discos de 78 rotações do conterrâneo Roberto Carlos e investiu na carreira do pupilo como um "príncipe da bossa nova". Entretanto, o cantor foi considerado imitador de João Gilberto e os discos não fizeram sucesso. Em seguida, Imperial apresentou Roberto Carlos à Columbia e foi o produtor (não creditado) de seu primeiro LP, Louco por Você. Imperial também revelou Elis Regina, que esperava posicionar como concorrente de Celly Campelo; porém, o LP Viva a Brotolândia desagradou a cantora e teve vendas inexpressivas. Em meados dos anos 60 Imperial aderiu à Jovem Guarda e compôs sucessos como "O bom" (interpretado e co-escrito por Eduardo Araújo), "Mamãe passou açúcar em mim" (na voz de Wilson Simonal) e "A Praça" (na voz de Ronnie Von e tema dos humorísticos Praça da Alegria e A Praça É Nossa), além da música Para o Diabo os conselhos de vocês, composta em parceria com Nenéo e sucesso na voz de Paulo Sérgio. Em pouco tempo, Imperial tornou-se um compositor disputado, com vários temas inscritos em festivais de música. Imperial foi o último parceiro de Ataulfo Alves; a dupla compôs, entre outras, "Você passa e eu acho graça", primeiro sucesso de Clara Nunes. No fim dos anos 60 Imperial desenvolveu o estilo musical pilantragem, inspirado no rock e no soul americanos, e formou o conjunto A Turma da Pesada como concorrente da Turma da Pilantragem. Sob a produção de Imperial, o grupo gravou o LP Pilantrália (paródia da Tropicália), com participação de músicos como Paulo Moura e Wagner Tiso. Em nova formação, com as gêmeas cantoras Celia & Celma e o próprio Imperial, a Turma da Pesada fez incontáveis apresentações no eixo Rio-São Paulo. Em 1970, o sucesso do soul brasileiro, liderado por Tim Maia, levou Imperial a explorar o filão, lançando no gênero (que denominou "som livre") artistas como Tony Tornado e Guilherme Lamounier. Nos anos seguintes, a atividade de Imperial como produtor musical se tornou esporádica. Em parceria com Oberdan Magalhães, produziu, entre outros, o compacto duplo da trilha sonora de Sábado Alucinante e os discos que lançaram Dudu França. Imperial estreou na televisão em um quadro semanal no programa de variedades Meio-Dia, da TV Tupi, onde mostrava seus artistas -- entre os quais, Roberto Carlos (apresentado como "Elvis Presley brasileiro"), Tim Maia e Paulo Silvino. Mais tarde, Imperial apresentou, no Rio de Janeiro, seus próprios programas de auditório na TV Continental, na TV Tupi e na TV Rio, e, em certo período, outro programa em Belo Horizonte. Na época, revelou Erasmo Carlos, Renato e Seus Blue Caps e Jorge Ben. Em São Paulo, produziu na TV Excelsior o programa O Bom, apresentado por Eduardo Araújo, como concorrente do Jovem Guarda, da TV Record. Na época, Imperial participou, como concorrente, do programa Esta noite se improvisa, onde enfrentava a simpatia de Chico Buarque e Caetano Veloso com sua pose de "ogro midiático"[1]: "O auditório o vaiava. Ele ria e atirava beijos debochados. As vaias ficavam mais fortes."[1] De volta à TV Tupi, em 1968, Imperial apresentou o programa Barra Limpa[1], época em que descobriu o cantor Fábio. Em 1971 Imperial foi contratado pela TV Globo como codiretor do game show Alô Brasil, Aquele Abraço[1]. Mais tarde, participou do júri do Programa Flávio Cavalcanti, na TV Tupi, e do Programa Silvio Santos, então na TV Globo. De volta à TV Rio, apresentou por dois meses o Show do Grande Rio, programa de entrevistas e comentários. Em 12 de agosto de 1978 estreou o Programa Carlos Imperial nas noites de sábado da TV Tupi, com atrações musicais variadas e forte investimento na disco music. Nele, Imperial apresentou artistas como Gretchen e Dudu França. Com boa audiências, mas prejudicado pela situação precária da Tupi, o programa foi transferido para a TVS, onde estreou em 9 de junho de 1979. O programa passou a ser gravado em São Paulo, onde era retransmitido pela TV Record, e contou com mais atrações paulistas. Uma comprovação de fraude na verificação de audiência, com o envolvimento de funcionários do Ibope, fez o programa ser tirado do ar. Silvio Santos, o dono da emissora, seguiu tratando Imperial com grande importância, convidando-o todos os anos para o júri do Troféu Imprensa. Segundo o jornalista Mauricio Stycer, Carlos Imperial "usou e abusou de métodos escusos para promover seus artistas e projetos culturais. Inventou histórias, mentiu, armou falsas brigas, plantou notas na imprensa". Ele costumava protagonizar falsas brigas com parceiros de trabalho, como Chacrinha, Erasmo Carlos e o maestro Caçulinha, argumentando que "se você quiser chamar a atenção para você, comece a falar mal da pessoa que estiver em maior evidência no momento". Imperial teve seu nome envolvido, junto com o do apresentador Luiz de Carvalho e de celebridades da Jovem Guarda, em escândalo de corrupção de menores associado ao uso das garçonnières de Imperial para orgias sexuais. Dias depois de dar sua versão do caso ao juiz Alberto Augusto Cavalcante de Gusmão, Imperial teve sua prisão decretada, e seu programa na TV Rio foi cancelado. Imperial e Eduardo Araújo buscaram abrigo na fazenda de Araújo em Joaíma enquanto não obtinham a revogação da prisão; lá compuseram "Vem quente que eu estou fervendo". Mário Gomes conseguiu retardar em dois meses o lançamento, em 1976, de O Sexo das Bonecas ao obter na Justiça a apreensão dos cartazes do filme. O ator, que sentiu-se "profundamente aborrecido em ver seu rosto ... usando batom e cílios postiços", também manifestou indignação com as modificações no roteiro e o "título sensacionalista da produção"]. Em março de 1977, o jornal Luta Democrática divulgou notícia falsa que causou sérios danos à reputação de Mário Gomes, então astro emergente de novelas na TV Globo. Imperial "não assumia nem negava a autoria do boato", mas "analistas de seu estilo literário apontavam a semelhança do texto da notícia com os editoriais de suas colunas". Imperial registrou como sendo de sua autoria várias músicas de domínio público. Carlos Imperial casou-se em 23 de abril de 1956 com Rose Gracie, filha de Carlos Gracie, tendo dois filhos: Maria Luíza (nascida em 13 de julho de 1956) e Marco Antônio (nascido em 22 de setembro de 1957). A relação do casal foi atribulada, pontuada por casos extraconjugais de Imperial, e Rose pediu desquite pouco depois do nascimento de Marco Antônio. Em 1968, Imperial começou uma relação estável com a cantora Celia, da dupla Celia & Celma, que durou até 1971. Em 1985, casou-se com a modelo Andréa Carla; o casamento durou até o início da década de 1990. Imperial também teve namoros notórios com, entre outras, Ita Rauchfeld, Maria Stella Splendore, Vicky Schneider, Myriam Pérsia, Baby Conceição, Sandra Escobar, Sandra Castro, Vera Garrido, Arlete Moreira e Marly Mendes. Em sua última aparição pública, apresentou à nação sua nova namorada, a amazonense Jana, de apenas 14 anos. Na época, Imperial tinha 42 anos a mais que a moça. Além de namoradas fixas, Imperial costumava hospedar em suas casas várias de suas "lebres" de cada vez. Ele "precisava da casa cheia de mulheres, pois sua imagem fora construída assim".[1] A aversão de Imperial a entorpecentes o levou a ter uma relação conflituosa com o filho, Marco Antônio, e o irmão, Paulo. Imperial foi vítima de miastenia grave, doença desencadeada por uma dose de diazepam no pós-operatório de uma lipoaspiração. Após operação para a retirada do timo, não resistiu e faleceu, aos 55 anos. Antes de morrer, Imperial teria deixado em testamento 25% de seus bens à sua namorada da época, a filha de 17 anos de um funcionário de sua empresa construtora. O documento, porém, foi considerado inválido.