“Era naquela esplanada que vinham acabar os dias, conversar, sonhar com o futuro a dois. Recorda todos os momentos como se fosse hoje, mas hoje ela já não está”
Da esplanada do café à beira-rio vê-se a outra margem, vê-se um castelo de nuvens baixas e o céu alaranjado por cima destas. Sentado a uma mesa ao fim de um dia sol, mas a ameaçar chuva, ele vê mais do que isto, vê-a sentada à sua frente a falar animadamente, a contar-lhe como foi o seu dia, a comentar o livro que está a ler, o filme que gostaria de ver, as sandálias que viu numa loja e está a pensar comprar para o Verão mas não já porque o dinheiro não abunda e terá de esperar pelo próximo ordenado.
Ouve-a falar, saltando de uns assuntos para os outros a uma velocidade estonteante e adora ficar a escutá-la, bastando-lhe fazer um comentário ou uma pergunta aqui e ali para ela embalar outra vez. É divertida, fá-lo rir. Adora as suas expressões faciais, é muito expressiva, e gira.
Vê-a feliz, a fazer gestos engraçados enquanto lhe conta as peripécias do trabalho. Baixa os olhos a abanar a cabeça, a sorrir, retira um cigarro do maço de tabaco, acende-o com o isqueiro, deita para o ar uma baforada de fumo. Uma criança na mesa ao lado solta uma gargalhada estridente, atraindo a sua atenção.
O miúdo roubou as chávenas de café dos pais e deita o que sobrou no seu copo de leite quase vazio, fazendo uma mistela a que acrescenta pacotes de açúcar. Aquela imagem fá-lo lembrar-se de que ela gosta de crianças e que lhe disse que queria ter muitos filhos. Chegaram a falar da possibilidade de terem um.
Ao longe, soa o ribombar de uma trovoada saudosa. Estiveram ali em tantos dias iguaizinhos àquele. Quando começaram a vir? Um ano, um ano e meio? Nessa época tinham a certeza de que precisavam um do outro, por muitas contrariedades que tivessem. Conheciam-se perfeitamente, ele mais tranquilo, mais resoluto; ela mais caprichosa, mais insegura.
Nessa altura ele não tinha qualquer dúvida de que ficaria com ela para sempre, nem hesitaria em dizer que era a mulher da sua vida. Nem agora, pois continua a pensar que é a mulher da sua vida, que não há outra que o faça sentir a mesma felicidade.
Vê-a ali, à sua frente, tal como costumava estar. Era naquela esplanada que vinham acabar os dias, conversar, sonhar com o futuro a dois. Recorda todos os momentos como se fosse hoje, mas hoje ela já não está e o lugar dela vazio traz-lhe uma imensa tristeza. Ela foi-se embora sem remorsos, sabe que a perdeu, que não a terá de volta.
Chama o empregado, paga a conta, solta um suspiro surdo, pensa que está na hora de regressar à realidade e vai-se embora. Amanhã virá novamente acabar o dia na esplanada, ou, quem sabe, se já se sentir capaz de largar o passado e seguir em frente, talvez vá a outro sítio qualquer.
Entra no carro e fica ali sentado durante um bom bocado a olhar para a esplanada que o fez sentir muitos dias feliz hoje triste, quando o telemóvel dá sinal de mensagem pega no aparelho olha para o número e sorri. E é naquele momento que volta a sentir que é, o homem mais feliz do mundo…
25/01/2013:
Joaquim Rodrigues: