Além da questão esportiva, transferência de Cristiano Ronaldo do Real Madrid para a Juventus pode ter influência das melhores condições financeiras apresentadas em solo italiano
Logo após deixar a Copa, Cristiano Ronaldo trocou o Real Madrid pela Juventus (Foto: Hannah McKay/REUTERS)
A saída de Cristiano Ronaldo do Real Madrid com destino à Juventus levantou diversos questionamentos no mundo do futebol. Com uma passagem vitoriosa no clube merengue, muitos se perguntam quais os motivos para o craque começar do zero em Turim. Além do lado esportivo e de performance, existem razões financeiras e econômicas que podem ter sido determinantes para o atacante deixar para trás a carreira dos sonhos que alcançou em Madri e iniciar uma nova trajetória na Juve.
Salário
Um salário maior é sempre um fator a ser considerado no momento de trocar de empresa. No Real Madrid, o salário de Cristiano Ronaldo girava em torno de € 21 milhões (R$ 94 milhões) por ano. Na Juventus, de acordo com o jornal "AS", a expectativa é que o craque recebe € 30 milhões (R$ 135 milhões).
Processo por sonegação na Espanha
Não é novidade para ninguém a rigidez fiscal na Espanha. Diversos astros do futebol espanhol, como Messi, Neymar, na época do Barcelona, e até o próprio Cristiano Ronaldo, foram denunciados por crime de sonegação. CR7 é acusado de fraude fiscal de € 14,7 milhões (cerca de R$ 66 milhões) por não declarar direitos de imagem e desviar dinheiro a paraísos fiscais. Ao todo, o português soma quatro delitos contra a Fazenda na Espanha.
O envolvimento em um caso de fraude fiscal vinha incomodando Cristiano Ronaldo. Segundo o jornal "A Bola", o problema despertou no atacante a vontade de deixar a Espanha. Advogado especializado em direito desportivo, Cristiano Caús ressalta que outros jogadores já saíram do solo espanhol por conta de problemas tributários.
– Existe esse aspecto do processo que enfrentou na Espanha. Muito se fala de jogadores que passaram por esse processo na receita espanhola e preferiram deixar o país, porque passaram por dificuldades, tiveram que fazer acordo para não serem presos. Evitar problemas com o fisco espanhol pode ser uma motivação grande para sair – disse Caús.
Cristiano Ronaldo foi acusado de sonegação (Foto: Reuters)
Mesmo mudando de país, Cristiano ainda terá que resolver as questões tributárias na Espanha. De acordo com o programa "Antena 3", existe um convênio entre as agências tributárias espanholas e italianas, o que poderia embargar o salário do português na Juventus, caso não haja o pagamento.
Os agentes de Cristiano propuseram um acordo à Advocacia do Estado espanhol, segundo informações do jornal "El País". O jogador estaria disposto a aceitar € 18,8 milhões (R$ 85 milhões) de multa e uma condenação de dois anos, sem obrigação de ingresso – a lei da Espanha permite que penas inferiores a dois anos sejam cumpridas em liberdade.
Impostos e questão fiscal na Itália
Se o fisco na Espanha era um problema para CR7, na Itália, por sua vez, ele pode ser uma solução. A questão de impostos na nova casa do português é mais favorável que em solo espanhol. Desde março de 2017, a lei de finanças italiana estabeleceu um imposto de € 100 mil (R$ 450 mil) por ano para receitas adquiridas fora do país.
Desta forma, Cristiano Ronaldo e a Juventus pagariam normalmente os impostos na parte do futebol, como salário, premiações e direitos de imagem. Para todos os rendimentos adquiridos e mantidos pelo craque fora da Itália, incluindo patrocínios individuais, imóveis e empresas, o atacante pagaria o valor de € 100 mil por ano.
Cristiano Ronaldo terá que pagar valores menores na Itália (Foto: Paul Hanna/Reuters)
Vale destacar que a taxa de tributação do imposto de renda na Itália pode ir até 43% em valores acima de € 75 mil (R$ 337 mil) anuais, ou seja, os valores pré-determinados promoveriam uma economia significativa para o português.
Cristiano Caús destaca que esse tipo de incentivo do governo italiano é bastante atrativo para um jogador com receitas milionárias também fora dos gramados, como é o caso de CR7. Além disso, Caús explica que existem manobras fiscais para que o atleta consiga pagar menos impostos.
– É um incentivo grande. Existem várias engenharias fiscais no futebol, como receber via contrato de imagem ou direto de patrocinadores. O clube paga, mas não entra como salário e não desconta o imposto de renda. Existem condições de receber dentro ou fora do país em que você trabalha, além da possibilidade de abrir estruturas políticas e empresariais para receber fora do país. São estruturas tributárias legais para diminuir a carga fiscal. Isso é pensado na gestão jurídica para fazer com que eles paguem menos imposto. Não é o salário, mas a forma como ele vai ser recebido que pesa muito – conta.
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Por Jamille Bullé, Rio de Janeiro