Cadê a água? O Fantástico mostra o sofrimento dos moradores com a seca que atinge São Paulo.
“Meu nome é Beatriz, eu falo aqui do bairro da Casa Verde, Zona Norte de São Paulo. Agora são aproximadamente umas 23h30. Não sai água da torneira. Já faz pelo menos uns três meses que a gente está nesse dilema de ter que juntar garrafa com água. Aqui a gente tem um estoque de garrafa pet com água”, conta a internauta Beatriz.
Na semana mais quente da história de São Paulo, ter água está cada vez mais difícil, como revelam os flagrantes feitos em todas as regiões da capital.
“São 22h25, como vocês podem ver a gente está sem água aqui na Vila Souza, na Brasilândia. Há seis meses, às 22h a nossa água é cortada”, diz Silvia Palhares.
“Agora são 11h32. Calorzão e a gente precisa de água. Vamos ver como está a situação?”, mostra Anderson Rocha.
“Meu nome é Fabrício, tenho 28 anos e moro aqui na Vila Leopoldina, Zona Oeste de São Paulo. Estou aqui para mostrar para vocês, são 10h, a falta d’água aqui no meu bairro. Como vocês podem ver, não cai nem uma gota. Eu preciso ir trabalhar e não tem nem como fazer almoço”, relata Fabricio Rodrigues.
“Meu nome é Elcio. Hoje é dia 18 de outubro, às 8h15. Moro na Vila Curuçá, em São Miguel Paulista, e a realidade é essa aqui: estamos sem água. Ontem terminou eram 19h e até agora não voltou”, diz Élcio Santos.
Está complicado para todo mundo. O nível do Sistema Cantareira, que abastece a maior parte da cidade de São Paulo, diminui a cada dia. Neste domingo (19), bateu outro recorde negativo: opera agora com apenas 3,6% da capacidade total.
A seca já afeta até mesmo áreas abastecidas por outras represas. A casa do Anderson, na Zona Sul, é atendida pelo Sistema Guarapiranga. A casa do Élcio, na Zona Leste, pelo do Alto Tietê. São os dois outros principais sistemas de abastecimento de São Paulo, junto com o Cantareira.
“Podem acontecer problemas de manutenção, problemas de falta de energia, de um modo geral, em toda a região metropolitana, em todos os sistemas, eles têm uma característica igual de operação. E os problemas que podem ocorrer, podem ocorrem em qualquer setor, em qualquer sistema produtor”, explica Marco Antônio Lopez Barros, superintendente de produção de água da Sabesp.
A estudante Carolina dos Santos mora com a mãe em Lauzane Paulista, Zona Norte da cidade. Há seis meses, elas vivem juntando água em panelas.
“Eles alegam que, na verdade, é uma manutenção que eles estão fazendo e que não é um racionamento ou de uma diminuição no fluxo de água. Só que essa manutenção, ela se repete todos os dias. São 10h20 da sexta-feira, dia 17 de outubro, e não tem água desde 19h”, ela conta.
Em tempos de torneiras secas, como aproveitar melhor o pouco que ainda resta? O Fantástico levou o especialista Gilmar Altamirano, presidente da ONG Universidade da Água, para a casa da Carolina.
Gilmar: Quando a senhora usa a máquina de lavar, o que a senhora faz com a água que sobra da máquina?
Sueli Dias, vendedora: Eu vou reaproveitar. Despejo em um balde e uso para lavar o quintal, a sujeira da cachorrinha, porque tem o sabão e eu vou reaproveitar tudo.
Mas como nem sempre tem água para usar na máquina... “Eu coloco roupa tipo batinha, blusinhas, que são mais leves, peças íntimas, tudo aqui. Não vai mais para a máquina. E eu jogo no vaso sanitário. Não dá para desperdiçar”, diz ela.
“Se ela não ligar a máquina a semana inteira, ela vai economizar no mínimo 100 litros. Então, ela estaria economizando toda a necessidade de uma pessoa por dia, que é muito em uma situação de escassez como essa”, alerta Gilmar.
A Carolina também ajuda: “Com esse copo de água já é o suficiente para escovar o dente, enxaguar. E, quando não tem água, o banho é de canequinha”, conta.
Aos poucos, todo mundo vai usando a criatividade. O Douglas, de Santo André, na Grande São Paulo, usa a água que pinga do ar-condicionado para lavar o carro, na descarga e até no aquário dos peixinhos.
A Semasa, órgão que abastece a região, diz que a situação está normalizada por lá.
A escassez vai além da cidade de São Paulo. “Sou moradora de Itu, do Jardim Aeroporto. Eu estou com a minha mãe acamada, idosa, de 70 anos. Minha torneira está sem uma gota d’água desde o dia 12”, conta uma mulher.
Em Itu, que já sofre com a seca há mais de quatro meses, a situação é tão grave que até a polícia foi chamada para escoltar os caminhões-pipa. Mais de 400 moradores protestaram nas ruas da cidade.
A empresa "Águas de Itu", responsável pelo abastecimento na região, disse que "somente com grande volume de chuvas é que os mananciais poderão ter a capacidade de reserva recomposta”.
Outros estados da Região Sudeste também já sofrem com a seca. Em Minas Gerais, Juiz de Fora já enfrenta racionamento. A prefeitura diz que é uma medida preventiva por causa da estiagem e do baixo nível dos reservatórios.
No Rio de Janeiro, o governador Luiz Fernando Pezão alertou: se não chover em 30 dias, o estado vai ter problemas.
Mas, o que diz a previsão do tempo? Será que finalmente vem água por aí? Tudo indica que sim. A partir de novembro começa o período de chuvas.
A média acumulada para a Região Sudeste deve ficar em torno de 800 milímetros nos próximos três meses, mas ainda bem abaixo dos 2 mil milímetros necessários para normalizar o Sistema Cantareira.
“A água do sistema Cantareira não vai acabar. Tem água no Sistema Cantareira e continuará tendo”, garante o superintendente de produção de água da Sabesp.