As imagens impressionam. Uma câmera no interior do veículo que segue pela estrada flagra a motorista digitando uma mensagem no celular.
Duas jovens acompanhantes também aparecem entretidas com o conteúdo do texto. A distração coletiva dura pouco, mas o suficiente para o carro invadir a pista contrária e se chocar contra outro carro.
Um terceiro automóvel também se envolve na batida. Entre ferragens e vidro moído, quatro mortos. O celular está no canto. Com a tela trincada, ele ainda exibe a mensagem que nunca fora enviada.
O vídeo é uma simulação da polícia do País de Gales exibida como alerta. Alerta feito também pela Universidade Harvard (EUA), cujo estudo equipara o risco de guiar e falar ao telefone ao de dirigir embriagado --equivalente à ingestão de duas taças de vinho.
O perigo se multiplica quando o condutor resolve ler ou digitar mensagens. Nesses casos, as chances de acidente dobram para quatro vezes, aponta a Universidade de Utah (EUA). No Brasil, o uso do celular ao volante dá multa de R$ 85.
O estudo mostra que, para digitar um texto, o condutor foca o celular por intervalos de 5s.
"Em 1s, o veículo a 60 km/h percorre 17 metros", calcula André Horta, analista do Cesvi (Centro de Experimentação e Segurança Viária).
"Entretido, o condutor diminui o poder de reação em meio ao trânsito e compromete a coordenação", alerta Horta.
Para Nelson Mattos, especialista em segurança de tráfego da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), o fato de as pessoas passarem mais tempo no trânsito estimula o uso de equipamentos de entretenimento e de comunicação.
Bluetooth
"O problema é que a pluralidade de tarefas atrapalha o ato de dirigir", afirma Mattos.
Por outro lado, cada vez mais carros são equipados com GPS, Bluetooth e entrada auxiliar para iPod, por exemplo.
De acordo com o pesquisador americano David Strayer, esses itens criam uma falsa sensação de segurança, pois não requerem o uso frequente das mãos.
A Fiat desde 2004 oferece o viva-voz para seus carros e diz que esse tipo de equipamento é um pedido dos consumidores.
"O teor da conversa potencializa a distração. Dialogar com o carona não afeta, pois ele acompanha a movimentação do trânsito e até alerta caso perceba perigo", diz Horta.
O Nationwide Mutual Insurance, uma espécie de consórcio de seguradoras americanas, entrevistou 1.506 motoristas. Desses, 8 em cada 10 assumiram que costumam usar o celular enquanto dirigem.
O curioso, no entanto, é que os adeptos que se consideram bons motoristas (98%) não acreditam no risco de combinar volante e telefone.
Metade dos entrevistados, porém, admite que quase se envolveu em acidente --usar celular ao volante é permitido em alguns Estados americanos.
Sem estudos aprofundados sobre o assunto, o governo brasileiro divulga dados genéricos. Números da Polícia Rodoviária Federal mostram que um terço dos acidentes nas estradas é motivado por algum tipo de distração do condutor.
FELIPE NÓBREGA
da Folha de S.Paulo
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