Quando, num ímpeto que nem sei o nome, beijei e abracei todo mundo que estava na festa, gostando de gente como nunca gosto, percebi que era uma daquelas chances.
De tudo o que posso ser, essa é a personagem que me vem com menos frequência. A garota corada, quase a Moranguinho que eu tinha quando era criança.
A minha versão que agrada e sorri e gosta e ouve todo mundo. Olha a fulana. Olha o cara. Pessoas. Eu adorando pessoas, adorando a festa, adorando até as burrices e tolices e futilidades que me contam.
E quando ela vem, fico nessa certeza, até um pouco doída, de que não existe nenhuma outra mais verdadeira. E que todo o resto, todo o enorme resto, é só para guardá-la intacta em algum lugar onde as janelas são anti-tudo.
Mas quando alguma coisa esquece a porta aberta e a noite está bonita demais para deixarmos as crianças medrosas, ela escapa. E é lindo. Quando os carrascos de fora e de dentro dormem, quando é feriado no planeta do afasta e repele e rebate e critica. Ela sai. E é lindo. Porque a maldade do mundo inteiro entende que não se brinca com as exceções da vida. E nada de mau acontece. Celebramos em paz.
Tati Bernardi
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